quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Para reflectir

Um conto : O Lobo ou o lobo

Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que
acontece dentro das pessoas.
Ele disse:
- A batalha é entre os dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é
mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância,
pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso,
superioridade e ego.
- O outro é bom. É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,
humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade,
compaixão e fé.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- Qual lobo vence?
O velho índio respondeu:
- Aquele que você alimenta...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

“Se me cativares …”

Espírito Rebelde , quase indomável…
Durante umas três semanas, cada dia tomávamos café juntas, lanchávamos juntas e conversávamos.
Um di,a numa das conversas, convidei-a para um dia diferente,
- Olha, gostava de te propôr algo diferente para além de amanhã,  sábado.
Yanni -  Então diz.
- Vamos um grupo de jovens ajudar a caiar e a pintar as paredes de uma casa antiga, que serve para encontros e formação de jovens, que está em reconstrução, queres ir connosco?
Y. – E vão lá estar o dia todo? Há lá café? (tomava 4 cafés por dia) E que posso eu fazer?
- O que gostavas tu de fazer?
Y.- Pode ser pintar. E quem vai? Alguém que conheço?
- Sim. Então vens connosco?
Y. – Sim, pode ser que seja fixe e saio do marasmo desta vidinha aqui da vila.
Naquele dia lá fomos até aquele lugar numa aldeia pacata. Dividimo-nos por grupos para cada dois jovens estarem numa divisão. Ela ficou com outras pessoas, mas a dada altura eu, que andava num banco, caí e dei um grito. Ela que estava numa divisão extrema da casa, chegou num instante para ver o que tinha acontecido.
Y. – Estás bem? Mesmo bem? Vê se tens de ir ao hospital (manifestava grande cuidado, o que não era nada normal para o seu estilo de vida).
Lá me deram gelo e a meio da tarde regressámos a casa.
Eu, antes de a ir levar a casa, parei para, numa conversa, analisarmos as duas, como tinha sido este dia.
- Então este dia que tal, gostaste?
Y. – Sim foi fixe.
- Ficaste aflita comigo?
- Pois, não sei o que aconteceu. Eu que sou uma pessoa fria e com sentimentos congelados, (alguns anos a consumir drogas, pior) tu fizeste aqui algo diferente.
- Quem, eu? Eu caí sem querer.
Y. – Yah! Mas eu conheço-me e foi estranha a minha reacção. Estes dias de convivência contigo e com alguns jovens tem sido porreiro.
- Yanni, mas custa-te sentir-te assim diferente? Ou gostaste de não ter o coração fechado?
Y.- Eu, se andasse a “dar na fruta”, nem me preocupava com ninguém. Podia estar alguém à minha beira a morrer e eu passava ao lado.  Eu sei que à medida que o tempo foi passando e eu fui consumindo drogas, fiquei mais estranha.
Mas hoje, algo diferente aconteceu, e eu sinto que as nossas conversas e o tempo que me dedicas está a fazer alguma diferença. Tu és muito diferente de mim, mas sabes ouvir-me e tens tempo.
- E é mau sentires-te assim ?
Y. Não, mas um pouco estranho!

“Cativar que quer dizer ? (…) Criar laços…” A. de Saint- Exupery

domingo, 29 de maio de 2011

Vive um dia de cada vez!

Naquela tarde de Julho do ano 1994 numa rua de uma aldeia do Litoral, cruzei-me com uma jovem com 17anos.
Jovem de cabelos compridos, de calças e Ti-Shirt pretas, com correntes nos bolsos e a fumar. Andava na berma do caminho. Tinha um olhar fugidio e o seu aspecto geral denotava muita solidão.
Olhei o seu rosto com algumas marcas de sofrimento e de rebeldia.
Não sei explicar como, mas a dada altura invadiu-me um olhar de afeição que me predispôs a uma conversa. E ela muito no seu mundo, mas lá tentou falar. Conversa aparentemente banal. Assim fiquei a saber que gostava de música metálica, de vestir roupa preta, de viajar e conhecer terras e de usar drogas.
Y.- Eu até quero deixar esta dependência, mas …até já tentei, mas…!
-Por isso andas longe da tua terra (Norte de Portugal) e família?
Y.-Sim, também. Mas por escolher as drogas ando por outros caminhos e saí de casa.
Ela olhava para mim, com olhar estranho, pois éramos pessoas com vidas tão distintas! De verdade, a nossa história, os nossos gostos, as opções, as escolhas, que diferença! Mas o convite era olhar as semelhanças …um ser humano como eu igual em dignidade, que se estava assim seria por motivos de falta do essencial na sua vida.
Conversámos um pouco, até que eu informei da existência de um grupo de jovens com quem fazia alguns momentos de passeios, de convívios, de entreajuda.
- se algum dia quiseres podes vir e conhecer .
Y.- tenho uma tia a viver para estes lados e vou lá passar, mas não sei mais nada.
- Então podíamos combinar amanhã tomar um sumo. Eu venho até cá, e pode ser nesta café?
Y- Yá, tá-se bem!
Esta expressão era nova para mim (isto à 16anos atrás). Como seria o dia seguinte, apareceria ou não? Pegaria na mochila e ir-se-ia embora para outra localidade? E se aparecer, como haveria de surgir alguma conversa?
A vida não é algo linear, é um fluir de acontecimentos que não controlamos.
O desafio era : “vive um dia de cada vez!”

segunda-feira, 28 de março de 2011

Apresentação da jovem Yanni

Vivia no Norte de Portugal. Era a filha mais velha de um casal jovem com 4 filhos.
Com  8 anos de idade os seus pais separaram-se. O seu pai , não ajudava a cuidar dos filhos.
A sua mãe  ficou com o encargo dos filhos,  da casa, e dívidas para pagar, e teve de imigrar. Isto implicou que a jovem Yanni, (filha  velha), aos  11 anos  tivesse ficado com a avó.
Ela teve de deixar de estudar para prestar auxílio e cuidados aos irmãos.
Aos 13 anos num grupo de adolescentes  que supostamente buscava como amigos , fez as suas primeiras más experiências com as drogas leves.
Aos 15 anos começou a usar drogas mais pesadas.
Anos mais tarde, tentou fazer algumas desintoxicações, alguns tratamentos.

domingo, 27 de março de 2011

Ao ler este Blog
de Outubro de 2010 a Fevereiro 2011, partilhamos a história real de uma jovem a Elisha.

Agora
contaremos a de outra jovem, a Yanni.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Testemunho da Elisha - 3ª Parte

E meu coração está cheio de gratidão!
Tenho bem presentes momentos de vida interior abundante, de paragem para escutar e descobrir quem sou eu. Não o que os outros dizem que sou, ou apenas diante do meu olhar, mas com O Olhar d´Aquele que quis e quer resgatar a tua e a minha vida do vazio. Agora consigo saborear mais intensamente a vida, pois andei muito tempo como que num nevoeiro. O Sol estava lá, mas eu não o reconhecia. Quantos momentos, quantas dinâmicas, meu Deus … Primeiro foi preciso remover a maior pedra… Agora sim, posso sentir a vida, a amizade, as saudades, a ternura dos que me querem bem de verdade. Posso partilhar a vida, os sentimentos, saborear a Tua Palavra… é tão bom, mas tão bom! Nunca tinha sentido tão intensamente a paz, a alegria interior, e quero que estes momentos continuem, apesar das dificuldades que possam surgir no meu caminho…

Hoje olho para o céu, vejo estrelas e canto uma música que me faz todo o sentido: “ Conta as estrelas do Céu, soma tudo o que Eu já fiz por ti …”.
Espero que outras pessoas possam ser mensageiros do Amor de Deus, em algumas vidas e eu quero colaborar para que outros conheçam este amor, esta espiritualidade, esta terapia.
Hoje dou graças pela Palavra, pelas pessoas, pela fé e pelas circunstâncias que me devolveram a VIDA!
A Ti, Senhor e AMIGO Jesus, eu digo: obrigada por me mostrares um Amor que me faz experimentar uma identidade de filha amada de Deus Pai. Por aqui não me sinto órfã, nem rejeitada, mas amada, acolhida, valorizada, e em crescimento.
A ti, Ana Vida, obrigada por me dares a conhecer um amor que nunca tinha conhecido... Desde então, recebo mais vida, e já posso levar esse tesouro a outros. Se hoje estou deste lado, foi pelo teu Sim à vida e a um amor maior!
A ti, que lês esta partilha, que experimentas situações de desespero ou que te identificas (mesmo que a tua história não seja igual à minha) com alguns sentimentos/ atitudes aqui confidenciados, eu digo:
-Arrisca conhecer o melhor que há em ti!
-Tens direito a descobrir Quem entrega tudo por ti...
-Vem, e verás que é possível viver mais e melhor!
-Não temas, pede ajuda e segue sugestões...
-Não desistas, procura, permanece, sei bem que não é fácil, mas é possível começar de novo, (eu sou a prova disso, no final de 10 anos a viver mal, estou já faz 18meses a viver bem por dentro (sinto-o, experiencio) – “e isso nota-se por fora”, dizem aqueles que me conhecem à muito …) !

«Tens diante de ti a água e o fogo, a vida e a morte. Estenderás a mão para o que desejares. (…)Repara que coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. Escolhe a vida para viveres tu e a tua descendênciaEcl. 15 e Dt.30
Agora eu entendo a Palavra desta citação … Hoje ( e cada dia) eu posso e quero escolher a vida, por mim e também para os que estão nos meus relacionamentos, e juntos podemos desfrutar de mais vida e alegria!
 Só por hoje, quero viver o melhor que saiba e possa, mas também sei que para tal tenho de me ir alimentando e cuidando os laços fraternos, os valores humanos e espirituais.

Espero que este testemunho vos tenha ajudado (a mim ajudou-me imenso escrever, pois faço memória … sinto-me mais grata e sei que não quero voltar ao meu passado). Espero que continuem, como eu, a caminhar pelos caminhos do MESTRE da Vida e do Amor. Quando me sentir frágil, quero ter os meus ouvidos, a minha mente e o meu coração abertos para escutar : «Levanta-te e anda

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Testemunho da Elisha - 2ª Parte

Em grupo, tudo é mais fácil pois somos mais fortes e agora tenho dois grupos, onde a vida de cada um e de todos é muito importante, pois quando alguém se sente só ou tem algum problema, vamo-nos apoiando e buscando luz, para podermos continuar. Para mim foi muito importante conhecer outras pessoas, no grupo, que também continuam a fazer este caminho de fé e crescimento interior. Perante as dificuldades, o convite é:
-reconhecer de onde vim, para onde quero ir e escolher a vida;
-olhar mais as semelhança (o que nos une), do que as diferenças (o que nos separa);
-fazer o exercício de confiar e entregar os meus limites e os dos outros, pedindo sempre um Novo Olhar.
Isto que fui experimentando, não o quis guardar só para mim, por isso aqui estou. Sinto-me chamada a dar, a partilhar as descobertas valiosas que fui e vou fazendo. Não foi, não é fácil, pois às vezes temos a tendência de desfocar o essencial e a verdade. Aqui, a partilha e a revisão da vida mostram-me ser possível caminhar…
A vida com sentido é feita de pequenos passos, passo a passo, grão a grão, vamos completando o nosso caminho. E, no meu caminho, eu tenho ainda que pedir o que me falta: a paciência, a serenidade, continuando a cuidar as sementes que querem viver e dar fruto.
No dia 3 de Agosto de 2009, fui para um Centro fazer tratamento às minhas emoções. Levava na bagagem o sentir e o saber que não tinha domínio sobre a minha vida. Seria uma situação nova, mas decidi confiar na proposta desta terapia, e entregar ao cuidado dos técnicos e de Deus, a oportunidade de buscar a paz e as ferramentas para mudar a minha vida.

Durante o tratamento, a paz e a serenidade foram vindo de mansinho. Vim a descobrir que tenho um problema emocional mas que está na minhas mãos travar a sua progressão, o que me trouxe um conforto impensável. Descobrir-me, aceitar-me e conhecer-me um pouco melhor foram e são aspectos importantes no meu crescimento. Olhar para o mais fundo de mim, chamar os sentimentos, as emoções pelos nomes, definir e reconhecer limites, defeitos, oportunidades, dar início a um processo de perdão da minha identidade mal definida fizeram com que ganhasse mais vontade para continuar. Aqui, fui identificando que Deus, com todas as sementes colocadas durante  anos, me deu um abraço, trabalhou a minha humildade e despertou a minha gratidão.
Em Dezembro,após três meses e pouco de paragem, com tempos de introspecção, de análise da vida, de terapia individual e de grupo, fui descobrindo e amando as minhas  misérias. Fui aprendendo a dar alguns passos, apoiada em princípios e valores. Mas a minha vontade própria permanecia e teimava, pensando que tinha capacidade para voar sozinha… mentira!! Os primeiros voos, apesar de cor-de-rosa, foram muito curtos. Deixei que começasse a declinar a humildade e a crescer a auto-suficiência.
Alguns acontecimentos fizeram-me parar e olhar de novo o que se estava a passar.
E o Amor chegará à tua vida um dia…
Em Fevereiro de 2010, deixei entrar na minha vida o Amor de verdade, de um modo muito profundo. A minha mente abriu-se mais e o meu coração acolheu. Nesta altura, pela dor, cresci mais um pouco, e o meu coração percebeu os laços fortes que tinha com esta pessoa que, com vínculos muito reais, segurou a minha vida. Ana Vida tinha pressentido que eu, estando em recuperação, não estava a viver com a qualidade que poderia. E graças a Deus, deixei que ela conhecesse as minhas misérias, e partilhei-as. Como senti a gratidão de modo intenso! Como sabia ela o que eu estava a viver, se estávamos a 250Km de distância e não havia, da minha parte, mensagens, nem comunicação por mail ou por sms?!
Coincidências? Ou milagres de amor? Ou momentos com assinatura de Deus? Quem não desistiria de mim, com situações de manipulação, ingratidão, desprezo?! Quem daria a vida por alguém tão inseguro e pobre a nível emocional, como eu?!
Agora eu sei que só o Amor de Alguém superior podia dar a vida por mim, e Ele ( a Quem eu chamo Jesus) contou com o Sim da Ana Vida. Por ela, Ele amou em mim o que eu não amo, e à força de amor, foi conquistando minha face negra e dando-lhe vida nova. Ele fez a Sua parte nesta história, outras pessoas a sua parte, e eu tenho vindo a dar conta que não é fácil mas é possível renascer uma e outra vez. O milagre de Amor acontece! E, desde então, a minha vida tem mais sabor, mais sentido, e sem dúvida que o investimento feito está a dar frutos! E para dar mais, tenho de continuar a cuidar, pois posso fazer diferente!
E eu sinto-me diferente, bem melhor, mais livre, mais autêntica. E pergunto-me: como saí eu do buraco em que me encontrava? Parei diante desta Palavra:
«Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se.   Depois, perguntou: «Onde o pusestes?» Responderam-lhe: “Senhor, vem e verás.” Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: «Vede como era seu amigo!»(…) Jesus, suspirando de novo intimamente, foi até ao túmulo. Era uma gruta fechada com uma pedra.  Disse Jesus: «Tirai a pedra.» Marta, a irmã do defunto, disse-lhe: “Senhor, já cheira mal, pois já é o quarto dia.» Jesus replicou-lhe: «Eu não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”Quando tiraram a pedra, Jesus, erguendo os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que sempre me atendes, mas Eu disse isto por causa da gente que me rodeia, para que venham a crer que Tu me enviaste.» Dito isto, bradou com voz forte: “Lázaro, vem cá para fora!”  O que estava morto saiu de mãos e pés atados com ligaduras. Jesus disse-lhes: “Desligai-o e deixai-o andar.”Então, muitos dos judeus que tinham vindo a casa de Maria, ao verem o que Jesus fez, creram nele. Alguns deles, porém, foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito.»Jo.11,18-45
Agora eu sei quem chorou por mim, agora eu sei quem desejou que eu vivesse mais e com qualidade. De facto, que ligaduras tinha eu? As da auto-suficiência, do orgulho, da insegurança, da vontade própria, da raiva… Mas, de facto, a minha vida já andava na escuridão de uma gruta, fechada em mim mesma e nos medos, angústias e vazios que me iam tirando vida. Porém, alguém colaborou com O Mestre e uma grande pedra feita de ressentimentos, sentimentos de culpa e teimosias foi removida. Senhor, como foi possível remover o pedregulho? Hoje, aqui e agora, já consigo ver, contemplar, saborear…enfim desfrutar da vida, da ternura, da amizade, da partilha, da fé! E já sei manifestar pedidos de desculpa… Eu estava sem vida, e agora posso ver a realidade como um cenário em que Deus se revela AMOR e Comunhão. Agora, tenho uma fé mais esclarecida e quero anunciar esta transformação, porque Tu, Senhor, tornas possível renascer, pois «com laços humanos, com vínculos de amor nos atrais.» Os.11,4 . Quem, Senhor, como Tu, tem Palavras de Vida Eterna?!
Quem sou eu para que Tu, à minha porta, passasses noites frias de ingratidão?! Quem somos nós, seres humanos, para Ti, para que nos queiras dar a conhecer tesouros escondidos e mais valiosos que o ouro ou a prata?!
Fantástico: agora posso ver e sentir! Contemplo as lágrimas que quatro pessoas, amigas de verdade, choraram por mim, e não posso esquecer encontros de jovens, e um momento muito especial -  Páscoa Fraterna. Agradeço a oração feita de amizade com Aquele que sonhou mais para as nossas vidas e que sustentou as pessoas que não desistiram de mim. É incrível a conquista de liberdade interior, saboreada nestes últimos seis meses. Como é possível dar conta que procurei fora, a riqueza que levava dentro?! Um olhar, gestos e acompanhamento de fé fazem toda a diferença!

E meu coração está cheio de gratidão!
(continua daqui 15 dias a parte final)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Testemunho da Elisha


Olá, sou a Elisha. Sou uma jovem como tantas outras jovens, mas com uma história de vida diferente. Com a separação dos meus pais, aos oito anos, e com outras desilusões, eu fiquei destroçada por dentro, o que, apesar de tudo, não era visível. A verdade é que os primeiros sete anos de vida são cruciais à formação da nossa personalidade que se irá revelar na fase adulta. Deste modo, aos 15 anos, essa ferida veio a manifestar-se um pouco mais e os sintomas eram: falta de apetite, dificuldade em dormir, desespero, ausência de vontade de viver, ansiedade, sentimentos de culpa e de inferioridade… A par de tudo isto, isolava-me. Quando fui ao médico, foi-me diagnosticada a primeira depressão.
Nem sempre reconheci os caminhos com mais vida
            Quis desistir de estudar, no final do 11ºano, pois estava sem motivação para nada. Pensei em desistir de viver, mas uma pessoa de um  grupo de jovens deu-me apoio e encaminhou-me para uma psicóloga! Foi uma conversa simples mas que me ajudou a desbloquear um pouco. Depois lá me reorganizei durante 4 anos, mudei de área e seguiu-se a entrada para a universidade, bem longe de casa. Como todos sabemos e descobrimos, a vida tem os momentos em que deslizamos, caímos, batemos com a cabeça, sofremos desilusões, provocamos rupturas, e falsas ideias se vão instalando, e assim foi, durante uns anos.
Aos 16 anos, conheci um grupo de jovens que conversava sobre uns temas da vida e para a vida. Nesse grupo, desenvolviam jogos, dinâmicas, partilhas, estabeleciam convívios… Dei conta que viviam uma amizade diferente que me cativava e comecei a ir, de vez em quando. A dada altura, participei num retiro de silêncio, de um fim semana. Aí, tive uma experiência tão forte… que chorei de alegria! Senti-me acolhida, envolvida num abraço interior…
 Sempre que ia ao grupo, sentia-me bem, ajudava-me, mas, passado um tempo, o meu ambiente familiar e o meu vazio faziam-me andar a saltitar e umas vezes dizia sim, outras fugia de mim e dos outros, e outras dizia não, para me esconder na minha concha.
 Agora, com discernimento, verifico que havia em mim uma mente pouco aberta, uma vontade própria e um orgulho doentes, que não me deixavam pedir ajuda. E como me convencia a mim mesma de que já estava bem, seguia …mas perdida na minha ilusão…
Nesse Grupo de Jovens, conheci a pessoa L.,  H., M., S., e outros jovens e ainda a Ana Vida, a que, em pouco tempo, percebeu que eu não vivia bem e muito menos era feliz. Reinava no meu viver o medo, a insegurança, a frustração, a ausência de afecto, a indecisão. A dada altura, Deus fez com que ela percebesse que eu precisava da sua humanidade revestida de fé, das suas palavras de esperança, para um dia conseguir encontrar o bom caminho. A mim e a outros, proporcionou-me momentos de encontros fraternos, momentos de grupo com partilha, momentos com tempos de “Ser”, onde sentíamos serenidade e alegria. Porém, estes sentimentos não iam muito fundo em mim, devido aos meus medos. Durante 9 anos, também nos proporcionou momentos de viver um Amor que se interessava pelo nosso crescimento a várias dimensões, para sermos mais pessoas e viver em plenitude nos relacionamentos... Esses, que são o meu maior problema. Ela ouvia e traduzia o que Jesus lhe ia dizendo, mas a verdade é que eu me encontrava muito fechada no meu orgulho, na minha solidão, num isolamento, cheia de vontade própria, mas desorientada e, muitas vezes, reagia mal à sua ajuda. Lá me ia deixando ajudar, uma ou outra vez, mas a tendência era sempre fechar-me na minha conchinha.
No ano anterior a me decidir por esta terapia específica, Ana vida continuava a dar-me um ou outro livro, textos para fazer descobertas, para meditar, e orava comigo … chorava comigo… Preparava, para mim, pistas, escrevendo mensagens, ligando a vida, a psicologia e a fé.  Interpelava-me a sair do isolamento para me encontrar, verdadeiramente, com a possibilidade de me reconciliar a partir de dentro! Ela, com os seus gestos e palavras de vida,  foi abraçando a minha miséria, alegrando-se com as minhas pequenas conquistas. Eu não entendia de onde vinha tanto amor e, muitas vezes, não sabia acolher tanta dedicação… Como podia a Ana Vida gostar de mim, se eu própria não gostava? Agora eu sei de onde vem a sua fortaleza interior: de Deus! Um Deus que me foi dando a conhecer, com a sua vida de pessoa humana e com Palavras de vida abundante! Um Deus próximo e companheiro. Um Deus Amor!

Ao longo de 10 anos, foram-me dadas vivências diferentes!
Foram 10 anos de palavras amigas, de sementes de esperança! Ana Vida possibilitou-me um acompanhamento humano e espiritual. Meu Deus, tantos meios para me fazer dar conta como vivia tão pouco do que estava chamada a viver! Tantos meios para me ir tornando consciente de que vivia tão mal. A verdade é que tantas vezes lhe virei as costas, porque não era consciente e, de certo modo, negava o meu problema e a necessidade de ajuda. Porque é que a minha vida, e a de outras pessoas, era tão importante para ela? Porque sofria ela por me ver sofrer? Aos 25 anos, cansada de uma vida fútil, frustrada, com algumas opções menos boas, desesperada, sem sentido, baixei a cabeça  e pedi-lhe mais uma vez ajuda.
 Hoje olho para trás e já consigo ver que aquele grupo (e outras pessoas com o mesmo ideal), feito de laços humanos bem diferentes, me permitiu criar laços fortes de fraternidade. Ali, eu sinto acolhimento de uma família verdadeira, há ali pessoas que nunca desistem da vida do outro que ainda não descobriu a vida, a esperança, o amor. Quero dar-lhes também de mim e continuar a usufruir de momentos tão ricos de vivências. Hoje, eu reconheço as sementes colocadas em mim durante 10 anos, com várias oportunidades dadas, mas que eu mal via, apesar de estarem lá… abafadas, apertadas, escondidas… ! Umas perdi-as mas outras estão a brotar nesta fase da minha vida. Dar conta disto é bonito e surpreendente!
«O semeador saiu para semear, algumas sementes caíram á beira do caminho, outras em sítios pedregosos, outras caíram entre espinhos, outras caíram em terra boa e deram fruto» Mt.13, 2-9
 Agora,  preciso de continuar a participar em encontros (cuidar as sementes), pois tenho vontade de mais e mais, de dar e receber, de partilhar.
Sozinha era impossível, já o tinha comprovado uma e mais vezes. Em Março de 2009, tinha sentimentos de angústia, de desmotivação, sentia-me confusa. Vivia um misto de sentimentos entre o querer mais para a minha vida e o medo de não conseguir alcançar a paz! (Aqui já vos foi dado a conhecer nas sete histórias, o percurso de apoio, e as minhas atitudes)
(continua)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Não imaginas o que em ti surgirá…se tu te lançares!

(parte 7 de 7)

Nova etapa…
Este tempo foi, para mim, oportunidade de agradecer esta terapia específica, tempo de me exercitar na entrega dos meus e dos seus impossíveis, para que Elisha se fosse abrindo de coração e mente às ajudas concretas. Foi ainda possibilidade de estar mais unida ao Mestre dos Mestres, como apoio vital.
Eu conhecia-a muito bem, “como a palma das minhas mãos”, e sabia que estar num Centro, e durante tantos dias, seria uma missão quase impossível. Porém, apoiava-me na Palavra que me ia sendo dirigida, durante estes tempos, e que já partilhei convosco ao longo de seis histórias.
Frente a esta situação humana tão frágil, e com nenhuns dados estatísticos de segurança, como poderia eu prever o futuro? E aqui meditava na vida de Jesus, como Mestre de Pedagogia e de Amor. Ele foi capaz de acreditar nas pessoas. Quando escolheu os doze apóstolos, fez um desafio a pessoas concretas, simples, mas que talvez mais ninguém ousasse escolher.
« Não tenhas medo»Lc.1
Muitas vezes, e de muitos modos, precisei escutar, bem dentro de mim, estas Palavras.
Este período foi de espera, e de alguma entrega no silêncio… Tempo para me  me exercitar no permanecer, guardando toda(s) a(s) Palavra(s) de Vida Eterna, que me tinha(m) sido dada(s) , meditando-a(s) no meu coração. Mas às vezes a minha ansiedade fez-me buscar ajuda, para procurar entender uma ou outra situação ! Tive receio, medo que não quisesse continuar. Porque é difícil deixar que alguém nos oriente, é difícil olhar a nossa história de vida… É um desafio dar passos para o interior de nós mesmos. Foram muitos anos a viver desfocada da verdade sobre si mesma, e isto tinha um peso que podia tornar-se num impedimento.
 Tive que partilhar esse sentir, para me ajudar a permanecer. Custa esperar, mas é verdade que: «o grão de trigo lançado à terra se não morrer não pode dar fruto.»Jo.12
E como eu sabia ser difícil este processo mas tão necessário! Como ela sofria pelas quedas dadas e pela vida que estava tão à deriva!…
Elisha lançou-se na aventura de deixar-se ajudar e de aprender a seguir sugestões.
Semana a semana, os terapeutas, a psicóloga e outras pessoas, também na busca de luz e de terapia para se libertarem, faziam caminho. Elisha, embora sentindo as exigência, já expressava:
- Estou do lado de cá, a aprender a conhecer-me, para saber lidar melhor comigo e com os outros.
Um dia, foram cinco pessoas amigas fazer-lhe uma visita, e a alegria de nos receber foi grande. Ao ver-nos, virando-se para o grupo de outras pessoas em tratamento, exclamou com entusiasmo:
-Está a chegar a “minha família”!
No final de dois meses, já se evidenciava alguma diferença no modo como olhava para si mesma, para o que ainda tinha a percorrer, mas também para o sentir.  De facto, já não andava deprimida, e sem precisar de medicação. Estava a aprender a identificar cada sentimento com um nome próprio. Já mais consciente do percurso a fazer, dizia:
-Graças a Deus que estou a fazer esta terapia, com técnicos fantásticos… Sem este passo…onde estaria eu? Num beco sem saída, já teria cometido uma loucura com a vida. Já não poderia contar-vos que é difícil, mas que é possível!
E perguntei:
 - Que mais te tem ajudado?
- A fé, a espiritualidade que já tinha sido semeada, e agora cuido e sustem-me nas dificuldades. E o saber que não estou só! Também o confiar na equipa que me está a acompanhar.
Um ano e cinco meses depois …
Não há palavras para descrever a vida nova que se vê, que se sente. É um “Milagre de Amor”
Elisha continua a cuidar a Vida descoberta, continua a identificar os seus sentimentos e a confiar em Deus o que não pode por si mesma. A sua vida e os seus relacionamentos são mais saudáveis, está a amadurecer. Há pessoas do grupo de jovens/adultos que, surpreendidas, exclamam:
-Quem te viu e quem te vê, que diferença tão bonita de ver! Como falas, como partilhas, como mostras sentir a amizade, a gratidão, como vives as responsabilidades e a inter-ajuda!
Na verdade, a Palavra de Deus não engana: «levantai os olhos e contemplai…..»Jo.4,35
Que convite tão bonito! Levantar o olhar para que a nossa fragilidade não esconda a realidade maravilhosa que Deus tem colocado nas nossas mãos. Eu e tu podemos ter tido experiências dolorosas, na relação connosco e  com os outros, mas isso não é indicador de que o Amor não exista! A vida tem pequenas e grandes surpresas, que ocorrem de forma silenciosa. Pode emocionar-me o sol que nasce e a vida que renasce? Então, feliz de quem se deixa enamorar pelo Dom da Vida que renasce.
Muito obrigada, Senhor, por tanto que me possibilitaste ver! Que bênção dar conta que a Tua Mão amorosa nos guia, quando nos reeducamos na pedagogia da fé! Como há festa no meu interior, e quão grata estou também a Maria, mulher e mãe…pela Ternura que me fez experimentar, na minha fragilidade.
Que tempo este de densidade humana, de intensidade na transmissão de vida e amor de Deus!
Que alegria é ver que se pode nascer de novo!
 Elisha,  pelo teu Sim à vida e ao amor, outros viverão pelo teu testemunho…

Pois é, amigo/a leitor/a… mais que ser optimista, é vital que nos conheçamos sem medo, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Um Amor Maior…É urgente que aprendamos a confiar, a pedir ajuda, a partilhar, a entregar o que não  podemos, porque Deus pode e dará pistas para mais vida!
Deixemos que o nosso coração se enamore por voos mais altos…
Esta é a história de alguém que deu e continua a dar passos para reaprender a viver bem.
Se tu te lançares na busca de mais vida interior e liberdade…encontrarás uma nova identidade… e sorrirás, cantarás e viverás!