terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Testemunho da Elisha


Olá, sou a Elisha. Sou uma jovem como tantas outras jovens, mas com uma história de vida diferente. Com a separação dos meus pais, aos oito anos, e com outras desilusões, eu fiquei destroçada por dentro, o que, apesar de tudo, não era visível. A verdade é que os primeiros sete anos de vida são cruciais à formação da nossa personalidade que se irá revelar na fase adulta. Deste modo, aos 15 anos, essa ferida veio a manifestar-se um pouco mais e os sintomas eram: falta de apetite, dificuldade em dormir, desespero, ausência de vontade de viver, ansiedade, sentimentos de culpa e de inferioridade… A par de tudo isto, isolava-me. Quando fui ao médico, foi-me diagnosticada a primeira depressão.
Nem sempre reconheci os caminhos com mais vida
            Quis desistir de estudar, no final do 11ºano, pois estava sem motivação para nada. Pensei em desistir de viver, mas uma pessoa de um  grupo de jovens deu-me apoio e encaminhou-me para uma psicóloga! Foi uma conversa simples mas que me ajudou a desbloquear um pouco. Depois lá me reorganizei durante 4 anos, mudei de área e seguiu-se a entrada para a universidade, bem longe de casa. Como todos sabemos e descobrimos, a vida tem os momentos em que deslizamos, caímos, batemos com a cabeça, sofremos desilusões, provocamos rupturas, e falsas ideias se vão instalando, e assim foi, durante uns anos.
Aos 16 anos, conheci um grupo de jovens que conversava sobre uns temas da vida e para a vida. Nesse grupo, desenvolviam jogos, dinâmicas, partilhas, estabeleciam convívios… Dei conta que viviam uma amizade diferente que me cativava e comecei a ir, de vez em quando. A dada altura, participei num retiro de silêncio, de um fim semana. Aí, tive uma experiência tão forte… que chorei de alegria! Senti-me acolhida, envolvida num abraço interior…
 Sempre que ia ao grupo, sentia-me bem, ajudava-me, mas, passado um tempo, o meu ambiente familiar e o meu vazio faziam-me andar a saltitar e umas vezes dizia sim, outras fugia de mim e dos outros, e outras dizia não, para me esconder na minha concha.
 Agora, com discernimento, verifico que havia em mim uma mente pouco aberta, uma vontade própria e um orgulho doentes, que não me deixavam pedir ajuda. E como me convencia a mim mesma de que já estava bem, seguia …mas perdida na minha ilusão…
Nesse Grupo de Jovens, conheci a pessoa L.,  H., M., S., e outros jovens e ainda a Ana Vida, a que, em pouco tempo, percebeu que eu não vivia bem e muito menos era feliz. Reinava no meu viver o medo, a insegurança, a frustração, a ausência de afecto, a indecisão. A dada altura, Deus fez com que ela percebesse que eu precisava da sua humanidade revestida de fé, das suas palavras de esperança, para um dia conseguir encontrar o bom caminho. A mim e a outros, proporcionou-me momentos de encontros fraternos, momentos de grupo com partilha, momentos com tempos de “Ser”, onde sentíamos serenidade e alegria. Porém, estes sentimentos não iam muito fundo em mim, devido aos meus medos. Durante 9 anos, também nos proporcionou momentos de viver um Amor que se interessava pelo nosso crescimento a várias dimensões, para sermos mais pessoas e viver em plenitude nos relacionamentos... Esses, que são o meu maior problema. Ela ouvia e traduzia o que Jesus lhe ia dizendo, mas a verdade é que eu me encontrava muito fechada no meu orgulho, na minha solidão, num isolamento, cheia de vontade própria, mas desorientada e, muitas vezes, reagia mal à sua ajuda. Lá me ia deixando ajudar, uma ou outra vez, mas a tendência era sempre fechar-me na minha conchinha.
No ano anterior a me decidir por esta terapia específica, Ana vida continuava a dar-me um ou outro livro, textos para fazer descobertas, para meditar, e orava comigo … chorava comigo… Preparava, para mim, pistas, escrevendo mensagens, ligando a vida, a psicologia e a fé.  Interpelava-me a sair do isolamento para me encontrar, verdadeiramente, com a possibilidade de me reconciliar a partir de dentro! Ela, com os seus gestos e palavras de vida,  foi abraçando a minha miséria, alegrando-se com as minhas pequenas conquistas. Eu não entendia de onde vinha tanto amor e, muitas vezes, não sabia acolher tanta dedicação… Como podia a Ana Vida gostar de mim, se eu própria não gostava? Agora eu sei de onde vem a sua fortaleza interior: de Deus! Um Deus que me foi dando a conhecer, com a sua vida de pessoa humana e com Palavras de vida abundante! Um Deus próximo e companheiro. Um Deus Amor!

Ao longo de 10 anos, foram-me dadas vivências diferentes!
Foram 10 anos de palavras amigas, de sementes de esperança! Ana Vida possibilitou-me um acompanhamento humano e espiritual. Meu Deus, tantos meios para me fazer dar conta como vivia tão pouco do que estava chamada a viver! Tantos meios para me ir tornando consciente de que vivia tão mal. A verdade é que tantas vezes lhe virei as costas, porque não era consciente e, de certo modo, negava o meu problema e a necessidade de ajuda. Porque é que a minha vida, e a de outras pessoas, era tão importante para ela? Porque sofria ela por me ver sofrer? Aos 25 anos, cansada de uma vida fútil, frustrada, com algumas opções menos boas, desesperada, sem sentido, baixei a cabeça  e pedi-lhe mais uma vez ajuda.
 Hoje olho para trás e já consigo ver que aquele grupo (e outras pessoas com o mesmo ideal), feito de laços humanos bem diferentes, me permitiu criar laços fortes de fraternidade. Ali, eu sinto acolhimento de uma família verdadeira, há ali pessoas que nunca desistem da vida do outro que ainda não descobriu a vida, a esperança, o amor. Quero dar-lhes também de mim e continuar a usufruir de momentos tão ricos de vivências. Hoje, eu reconheço as sementes colocadas em mim durante 10 anos, com várias oportunidades dadas, mas que eu mal via, apesar de estarem lá… abafadas, apertadas, escondidas… ! Umas perdi-as mas outras estão a brotar nesta fase da minha vida. Dar conta disto é bonito e surpreendente!
«O semeador saiu para semear, algumas sementes caíram á beira do caminho, outras em sítios pedregosos, outras caíram entre espinhos, outras caíram em terra boa e deram fruto» Mt.13, 2-9
 Agora,  preciso de continuar a participar em encontros (cuidar as sementes), pois tenho vontade de mais e mais, de dar e receber, de partilhar.
Sozinha era impossível, já o tinha comprovado uma e mais vezes. Em Março de 2009, tinha sentimentos de angústia, de desmotivação, sentia-me confusa. Vivia um misto de sentimentos entre o querer mais para a minha vida e o medo de não conseguir alcançar a paz! (Aqui já vos foi dado a conhecer nas sete histórias, o percurso de apoio, e as minhas atitudes)
(continua)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Não imaginas o que em ti surgirá…se tu te lançares!

(parte 7 de 7)

Nova etapa…
Este tempo foi, para mim, oportunidade de agradecer esta terapia específica, tempo de me exercitar na entrega dos meus e dos seus impossíveis, para que Elisha se fosse abrindo de coração e mente às ajudas concretas. Foi ainda possibilidade de estar mais unida ao Mestre dos Mestres, como apoio vital.
Eu conhecia-a muito bem, “como a palma das minhas mãos”, e sabia que estar num Centro, e durante tantos dias, seria uma missão quase impossível. Porém, apoiava-me na Palavra que me ia sendo dirigida, durante estes tempos, e que já partilhei convosco ao longo de seis histórias.
Frente a esta situação humana tão frágil, e com nenhuns dados estatísticos de segurança, como poderia eu prever o futuro? E aqui meditava na vida de Jesus, como Mestre de Pedagogia e de Amor. Ele foi capaz de acreditar nas pessoas. Quando escolheu os doze apóstolos, fez um desafio a pessoas concretas, simples, mas que talvez mais ninguém ousasse escolher.
« Não tenhas medo»Lc.1
Muitas vezes, e de muitos modos, precisei escutar, bem dentro de mim, estas Palavras.
Este período foi de espera, e de alguma entrega no silêncio… Tempo para me  me exercitar no permanecer, guardando toda(s) a(s) Palavra(s) de Vida Eterna, que me tinha(m) sido dada(s) , meditando-a(s) no meu coração. Mas às vezes a minha ansiedade fez-me buscar ajuda, para procurar entender uma ou outra situação ! Tive receio, medo que não quisesse continuar. Porque é difícil deixar que alguém nos oriente, é difícil olhar a nossa história de vida… É um desafio dar passos para o interior de nós mesmos. Foram muitos anos a viver desfocada da verdade sobre si mesma, e isto tinha um peso que podia tornar-se num impedimento.
 Tive que partilhar esse sentir, para me ajudar a permanecer. Custa esperar, mas é verdade que: «o grão de trigo lançado à terra se não morrer não pode dar fruto.»Jo.12
E como eu sabia ser difícil este processo mas tão necessário! Como ela sofria pelas quedas dadas e pela vida que estava tão à deriva!…
Elisha lançou-se na aventura de deixar-se ajudar e de aprender a seguir sugestões.
Semana a semana, os terapeutas, a psicóloga e outras pessoas, também na busca de luz e de terapia para se libertarem, faziam caminho. Elisha, embora sentindo as exigência, já expressava:
- Estou do lado de cá, a aprender a conhecer-me, para saber lidar melhor comigo e com os outros.
Um dia, foram cinco pessoas amigas fazer-lhe uma visita, e a alegria de nos receber foi grande. Ao ver-nos, virando-se para o grupo de outras pessoas em tratamento, exclamou com entusiasmo:
-Está a chegar a “minha família”!
No final de dois meses, já se evidenciava alguma diferença no modo como olhava para si mesma, para o que ainda tinha a percorrer, mas também para o sentir.  De facto, já não andava deprimida, e sem precisar de medicação. Estava a aprender a identificar cada sentimento com um nome próprio. Já mais consciente do percurso a fazer, dizia:
-Graças a Deus que estou a fazer esta terapia, com técnicos fantásticos… Sem este passo…onde estaria eu? Num beco sem saída, já teria cometido uma loucura com a vida. Já não poderia contar-vos que é difícil, mas que é possível!
E perguntei:
 - Que mais te tem ajudado?
- A fé, a espiritualidade que já tinha sido semeada, e agora cuido e sustem-me nas dificuldades. E o saber que não estou só! Também o confiar na equipa que me está a acompanhar.
Um ano e cinco meses depois …
Não há palavras para descrever a vida nova que se vê, que se sente. É um “Milagre de Amor”
Elisha continua a cuidar a Vida descoberta, continua a identificar os seus sentimentos e a confiar em Deus o que não pode por si mesma. A sua vida e os seus relacionamentos são mais saudáveis, está a amadurecer. Há pessoas do grupo de jovens/adultos que, surpreendidas, exclamam:
-Quem te viu e quem te vê, que diferença tão bonita de ver! Como falas, como partilhas, como mostras sentir a amizade, a gratidão, como vives as responsabilidades e a inter-ajuda!
Na verdade, a Palavra de Deus não engana: «levantai os olhos e contemplai…..»Jo.4,35
Que convite tão bonito! Levantar o olhar para que a nossa fragilidade não esconda a realidade maravilhosa que Deus tem colocado nas nossas mãos. Eu e tu podemos ter tido experiências dolorosas, na relação connosco e  com os outros, mas isso não é indicador de que o Amor não exista! A vida tem pequenas e grandes surpresas, que ocorrem de forma silenciosa. Pode emocionar-me o sol que nasce e a vida que renasce? Então, feliz de quem se deixa enamorar pelo Dom da Vida que renasce.
Muito obrigada, Senhor, por tanto que me possibilitaste ver! Que bênção dar conta que a Tua Mão amorosa nos guia, quando nos reeducamos na pedagogia da fé! Como há festa no meu interior, e quão grata estou também a Maria, mulher e mãe…pela Ternura que me fez experimentar, na minha fragilidade.
Que tempo este de densidade humana, de intensidade na transmissão de vida e amor de Deus!
Que alegria é ver que se pode nascer de novo!
 Elisha,  pelo teu Sim à vida e ao amor, outros viverão pelo teu testemunho…

Pois é, amigo/a leitor/a… mais que ser optimista, é vital que nos conheçamos sem medo, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Um Amor Maior…É urgente que aprendamos a confiar, a pedir ajuda, a partilhar, a entregar o que não  podemos, porque Deus pode e dará pistas para mais vida!
Deixemos que o nosso coração se enamore por voos mais altos…
Esta é a história de alguém que deu e continua a dar passos para reaprender a viver bem.
Se tu te lançares na busca de mais vida interior e liberdade…encontrarás uma nova identidade… e sorrirás, cantarás e viverás!