domingo, 29 de maio de 2011

Vive um dia de cada vez!

Naquela tarde de Julho do ano 1994 numa rua de uma aldeia do Litoral, cruzei-me com uma jovem com 17anos.
Jovem de cabelos compridos, de calças e Ti-Shirt pretas, com correntes nos bolsos e a fumar. Andava na berma do caminho. Tinha um olhar fugidio e o seu aspecto geral denotava muita solidão.
Olhei o seu rosto com algumas marcas de sofrimento e de rebeldia.
Não sei explicar como, mas a dada altura invadiu-me um olhar de afeição que me predispôs a uma conversa. E ela muito no seu mundo, mas lá tentou falar. Conversa aparentemente banal. Assim fiquei a saber que gostava de música metálica, de vestir roupa preta, de viajar e conhecer terras e de usar drogas.
Y.- Eu até quero deixar esta dependência, mas …até já tentei, mas…!
-Por isso andas longe da tua terra (Norte de Portugal) e família?
Y.-Sim, também. Mas por escolher as drogas ando por outros caminhos e saí de casa.
Ela olhava para mim, com olhar estranho, pois éramos pessoas com vidas tão distintas! De verdade, a nossa história, os nossos gostos, as opções, as escolhas, que diferença! Mas o convite era olhar as semelhanças …um ser humano como eu igual em dignidade, que se estava assim seria por motivos de falta do essencial na sua vida.
Conversámos um pouco, até que eu informei da existência de um grupo de jovens com quem fazia alguns momentos de passeios, de convívios, de entreajuda.
- se algum dia quiseres podes vir e conhecer .
Y.- tenho uma tia a viver para estes lados e vou lá passar, mas não sei mais nada.
- Então podíamos combinar amanhã tomar um sumo. Eu venho até cá, e pode ser nesta café?
Y- Yá, tá-se bem!
Esta expressão era nova para mim (isto à 16anos atrás). Como seria o dia seguinte, apareceria ou não? Pegaria na mochila e ir-se-ia embora para outra localidade? E se aparecer, como haveria de surgir alguma conversa?
A vida não é algo linear, é um fluir de acontecimentos que não controlamos.
O desafio era : “vive um dia de cada vez!”