segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dizem que um sorriso é tão difícil de dar…

(parte 5 de 7)
                                                   
                                      

E eis que surgiu a dúvida, a insegurança, o medo e, mais uma vez, parecia que fugir, afastar-se para outro espaço e com outras companhias  ia resolver o assunto. E lá ia  Elisha…com pessoas que colocavam panos quentes na situação e alimentavam um “eu” que estava muito doente. Pouco a pouco, a tristeza foi-se instalando mais dentro. Os sentimentos estavam misturados, mal definidos, e a vontade própria criava falsas imagens de conforto. O passado perturbava-a e o futuro atormentava as suas forças emocionais e físicas.
Dando conta do caminho tortuoso que Elisha estava de novo a escolher, sem eu nada poder fazer diante dessas imagens desfocadas que tinha de si e do amor; chorei amargamente! E senti uma incapacidade tão grande, mas tão grande!! Diante deste “deixar-se levar” pelo mais fácil e cómodo, decidi parar um tempo mais prolongado, num momento de meditação. Procurei uma Palavra que respondesse ao que estava a viver. Procurei fazer silêncio, num final de tarde. E foi-me dirigida esta “Palavra”:
« Abraão leva o teu filho, onde o oferecerás…! »Gn.22,2-13
“Mas que é isto?! Que me queres mostrar?!”- interroguei…
Agora, olhando esta Palavra e a minha vida, percebo que me convidas ao desprendimento, não por masoquismo, mas porque Tu sabes o que é o melhor para mim e eu tenho que Te deixar ser Deus, e tenho de aceitar ser criatura.
Ela não era minha, eu já tinha posto todos os meios à sua disposição, por isso, já sem forças e vendo os meus impossíveis, decidi entregar nas mãos de Deus a sua vida. Percebi também que o meu orgulho me estava a impedir de dar esse passo…Percebi que Tu me estavas a ensinar a lição da humildade…
Ui, mas como me custou! Que sensação de perda, de algo que se rompe dentro e dói! Custa lidar com o sentimento de ser incapaz, de nada poder. Porém, acalmei após um tempo neste espaço de “SER”, de ser eu mesma, de assumir diante do Criador a minha fragilidade, a minha dor, dizendo-lhe que Ele pode o que eu não posso…  
Sabes Senhor, as vivências com esta jovem, ao longo de nove anos, foram tendo uma tonalidade afectiva, relacional, de acolhimento, de paciência, de partilha, de fé, de alegria… mas também momentos de tons cinzentos onde a tristeza me invadia., mas quando deixei que Tu falasses à minha raiva ou sentimento de incapacidade, de novo me davas alento! Porém, ela como que ia e vinha e pouco tempo permanecia. Só Tu conhece bem o que foi vivido e entregue. Só Tu podes valorizar e um dia redimensionar tudo isto. E tive uma “luz” – escrever-lhe algo e desde aí entregar.
Decidi escrever para mandar por e-mail umas palavras para a fazer reflectir, e a mim também me ajudaria (fica aqui uma parte dessa carta).
“A vida não é existir sem mais nada, a vida não é dia sim, dia não” (Mafalda Veiga)
(…)
De facto dizias que querias ser feliz mas contentas-te com migalhas de sobrevivência. Sim, é que mudar implica escolhas e acção. Que escolhas tens feito, em que te ajudaram?
Perguntavas:”acreditas que posso chegar a ser uma pessoa normal?" Manifestavas cansaço de situações de sofrimento emocional, de depressão e desalento, mas pelos vistos ainda sofreste pouco para o teu temperamento de teimosia!
Se és crescida para optar por fazeres certas escolhas em detrimento de outras, então também vais assumir as consequências de não estares a investir no caminho de recuperação do teu “tecido emocional e relacional”. Gostava que fosses ouvir opinião de outro terapeuta, e tu que fizeste com isso?
(…)
Com o teu silêncio parei e dei-me conta que já não és criança, que não sabes ainda cuidar bem de ti, por fragilidade emocional, mas que teimas em seguir por caminhos velhos. Tentei entender o terramoto que viveste e permaneci.
Quem tem que querer mudar para melhor és tu, tu em primeiro lugar tens que querer com toda a tua alma e entendimento. Tu queres? Com que intensidade?
É certo que só Deus te conhece bem. Mas eu já conheço de ti o suficiente para não embarcar em manipulações. Sim porque há atitudes de pessoas à tua volta que estão a fazer desenvolver o “Rei-bébé”, esse “síndrome “ que te engana  e te ofusca a verdade.
Quero o teu bem, porque te quero bem, mas para tal tenho que ser assertiva. E isso custa-te, eu sei, (e custa-me) no entanto dei-te provas da minha entrega com Jesus por ti. Mas se preferes viver com altos e baixos e sentir mais fracassos e rebentar contigo, eu não posso fazer nada.
Um dia talvez chegues a reconhecer o teu verdadeiro valor. (Porque a tua vida vale muito!)

Na semana que se seguiu, ainda sem saber noticias suas, num outro momento de meditação, encontrei esta Palavra:
«Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda. (…) Maria disse: “Não tem vinho”…..., fazei o que Ele vos disser» Jo.2, 3-5
Naquela festa era importante o vinho. E na vida de cada um, que precisamos mais? Pois… de vida abundante, de alegria, de ânimo, verdade? E o que posso fazer, por onde ir?
“Fazei o que Ele vos disser”. «Ora havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos. Disse-lhes Jesus:”Enchei as vasilhas de água.” Eles assim o fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era, mas sabiam-no os serventes.»Jo.2, 6-10
Olha, Senhor, ensina-me a, na “vasilha de pedra dos meus esquemas”, saber colocar quem sou e ainda não, a minha limitação, a minha “água”, mas também o meu desejo de amar, de colaborar Contigo. E transforma-me, para viver melhor a realidade que agora tenho, não a que sonhei. Como nesta boda, vejo-te a Ti e à Tua mãe Maria, revelando a bondade e a delicadeza, transbordando o Amor de Deus que necessitamos para viver bem.
Fui colocando nas Mãos de Maria, mulher e mãe, a vida de Elisha… Pedi a Sua intercessão, para saber viver esse momento. Dizia para mim: “Sei que para Deus não há tempo nem espaço, e o Espírito Santo pode tocar o seu coração no tempo oportuno, para que um dia ela queira fazer uma terapia específica, ( para tratar o “Síndrome do Rei -Bébé” )por isso tenho de esperar. Saber esperar com Confiança! Quero acreditar que esta espera vai dar fruto.”
Tendo sabido qual a terapia aconselhada, ainda mais custava que se afastasse…. Perante uma Nova Esperança, gostaria de lhe abrir essa porta. Mas a confiar que Deus pode, pedi:
”Ensina-me, Senhor, a ser paciente com o tempo dos outros! Sei que onde está, longe a nível de distância geográfica, não estará bem pois conheço-a “como a palma das minhas mãos”.Mas só posso entregar.”
Recebi uma mensagem? Não! Mas esta atitude mais me confirmava a necessidade de terapias.
E o sorriso não era possível, face a um coração que se encontrava dividido. E o perigo espreitava pois a auto-estima não estava ajustada, e o suspender ou adiar uma decisão, eram uma constante na sua vida. E o sorriso não se encontrava, pois algo muito antigo, da sua história de infância e adolescência, bloqueava os seus sentimentos e congelava as suas emoções. E o perigo espreitaria enquanto as mensagens autodestrutivas do passado e o medo de enfrentar a dor tivessem mais força que a amizade, a estima, o amor, a fé e a coragem.
“Concedei-me, Senhor,
 Serenidade para aceitar o que não posso modificar,
Coragem para modificar o que eu posso, e
 Sabedoria para distinguir uma realidade da outra.”

1 comentário:

  1. Eu sou testemunha de que um sorriso custa pouco, mas vale muito.

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